“Precisamos de um único nome de centro”, diz Temer em entrevista ao Correio

Brasília (DF) – Um ano depois da divulgação do áudio gravado pelo empresário Joesley Batista — pivô do maior escândalo do atual governo —, o presidente Michel Temer chama o episódio de “embaraço do dia 17 de maio”, mas diz que, se houve um erro, não foi dele. “O erro foi ele gravar. Recebi inúmeras pessoas no Jaburu e não colocava na agenda. Foi um descuido meu, mas não que tenha sido um gesto criminoso, absolutamente não”, disse o emedebista durante entrevista ao Correio, no final da manhã de ontem, no gabinete presidencial, terceiro andar do Palácio do Planalto.

Ao fazer uma retrospectiva dos dois anos de mandato, Temer tem na ponta da língua avanços na economia por causa de reformas e de repactuações de acordos com estados e municípios, além de medidas como a liberação do FGTS. Mas também elenca acertos nas áreas de educação, saúde, meio ambiente e segurança. Diz, porém, não conseguir entender os altos índices de impopularidade. “Se vocês colocarem entre aspas, acho que as pessoas não vão com a minha cara”, brinca, e, logo depois, emenda, sério: “Reconheço esta impopularidade derivada de uma campanha que é feita contra mim”.

Sobre a candidatura ao Planalto, Temer diz que está “meditando”, mas abre espaço para o debate de um candidato do centro. “Eu penso que todos os candidatos tinham de abrir mão para firmar um pacto em torno de um só candidato”, afirmou Temer, considerando que este nome pode até mesmo não estar entre os anunciados até agora. Com base nas pesquisas atuais, vê força em Jair Bolsonaro, Ciro Gomes ou Marina Silva. “Isso significa que precisamos ter um único candidato de centro.”

Como o senhor quer ser julgado pela história?

Olha… Pergunta difícil. Quero ser julgado como alguém que passou por aqui, colocou o Brasil nos trilhos, permitiu uma sequência governamental. Lamento não ter conseguido ainda a reforma da Previdência. E também quero ser lembrado como alguém que manteve, digamos, os critérios democráticos. Há poucos dias ouvi de um colega de vocês, da imprensa, que via algo incrível. Batiam em mim, e ainda assim eu mantinha a liberdade de imprensa. Porque existe uma ordem constitucional, que assim determina. Distingo as pessoas das instituições, todos vamos passar, as instituições permanecem. Eu quero ser lembrado, assim, como alguém que, apesar das agressões, não respondeu com agressão. Vocês se lembram na Argentina, por exemplo, a ex-presidente tentou fechar empresas… Jamais isso me passou pela cabeça, por mais que, no plano pessoal, eu considerasse uma injustiça. Prego uma reinstitucionalização do país, perdemos um pouco esse sentido, essa noção. Estamos fazendo essa integração na segurança pública, por exemplo. Criamos esse ministério porque já tínhamos levado a garantia da lei e da ordem para 11 estados brasileiros, alguns duas, três vezes. Sem entrar nas competências dos estados, estamos fazendo esse trabalho e colocando também verbas, o BNDES está colocando quase R$ 40 bilhões para estados e municípios brasileiros. Fizemos reuniões dos governadores e prefeitos das capitais, reuniões das empresas… Das igrejas, até. Para pôr todo mundo nessa história da segurança, e acho fundamental, porque quando fui secretário da primeira vez, me lembro que criei os conselhos comunitários de segurança, que era o sujeito, digamos de capital, que inclui as associações de bairro. Falo isso para dizer que quero ser lembrado assim. Agora, se também quiserem lembrar de outra maneira, não tem importância.

O senhor sente algum tipo de mágoa, se chateia com a  alta impopularidade?

Zero mágoa, agora vejo naturalmente um critério injusto. Reconheço esta impopularidade derivada de uma campanha que é feita contra mim, então, sei lá, tem 6 milhões de pessoas que podem achar que sou uma boa pessoa, têm 200 que são bombardeados diariamente pelo noticiário. Você vê, não há uma notícia positiva divulgada. Nisso não se dá crédito.

A divulgação da gravação do Joesley Batista completou um ano hoje (ontem). A popularidade piorou desde então?

Naquela data já não tinha muita popularidade, estava muito em alta a pauta da Previdência, e a campanha contra mim era uma coisa feroz. Aquilo não me dava popularidade, mas não me incomodava.

Foi um erro receber o Joesley naquele horário, daquele jeito?

Não. Disso não há dúvida, o erro foi ele gravar. Pelo seguinte, eu recebi gente lá no Jaburu, inúmeras pessoas. Empresários, gente da imprensa, às vezes, ia jantar às 22h30. E não estava na agenda, e até outros empresários.. Não colocava na agenda. Esse foi um descuido meu, mas não que tenha sido um gesto criminoso, absolutamente. Sobretudo, o caso do Batista… Era a quinta vez que se procurava audiência comigo e não pude atendê-lo, por razões factuais. Quando ele ligou aqui, tinha uma homenagem para ir. Quando ele mandou ligar, falei para mandar vir naquele momento. Mas não chegou a vir, talvez, porque seria detectado por causa do gravador, não sei. Eu disse que só podia 21h, 22h, depois da homenagem ao jornalista Noblat. Mandei dizer que precisava sair e fui lá na homenagem, depois fui para casa e o esperei lá. Mas fiz isso com ele e mais 200 pessoas. Se todos gravassem… Sei lá.

Se o episódio de Joesley não é o motivo, qual a explicação para a impopularidade?

Não sei, não consigo entender bem o porquê. Talvez porque eu não seja um sujeito de gestos populistas. Desde a época da faculdade, da procuradoria… Sempre fui muito discreto. Não sei me portar como se fosse um carro alegórico, tem gente que consegue. Eu dificilmente dou lead (informação quente e direta para uma reportagem), porque sou muito explicativo. É aquela mania de explicar tudo, não sei qual a razão. Quando tem uma campanha muito grande contra o governo, as pessoas acham que sou um tirano, deseducado… Aliás, o que falta ao Brasil, é educação cívica, uma certa liturgia, uma certa cerimônia entre as pessoas. Porque hoje o desapreço e o  desprezo pela autoridade são muito grandes. Isso é ruim, nos EUA você não chama ninguém pelo primeiro nome, é Mr. Trump, Mr. Clinton… Aqui não, é Michel, Dilma… Quando se fala em abuso de autoridade, pensam que alguém ofendeu o presidente da República, da Câmara… Se não perceberem que a única figura que tem autoridade no país é a lei, você não consegue resolver o assunto, a Constituição bem ou mal nasce da soberania popular. Agora, se você votasse uma lei que falasse “toda vez que alguém descumprir o texto constitucional, quando for autoridade pública, você está abusando da autoridade”, o mundo seria outro.

O senhor é candidato?

Ainda estou meditando.

O senhor já está meditando há muito tempo, não?

Eu tenho o que dizer. Quem se opuser ao governo, vai ter que dizer que é contra o teto dos gastos, que não tem preocupação com o país; que é contra a inflação ridícula de 2,8%, porque é a favor de 10,28%; que é contra a redução dos juros de 14,25%, para 6,5% porque quer juros mais elevados; que é contra a recuperação das estatais, a Petrobras, a Caixa Econômica;, contra a modernização trabalhista porque “temos que manter a consolidação de 1943”. Vai ter que dizer isso! Não vi ninguém ainda… No caso da reforma da Previdência, estávamos preparados para votar e aconteceu o embaraço em 17 de maio e paralisou tudo. Foi algo estupendo, que paralisou o país. Embora achassem que eu renunciaria, estamos aqui e faz um ano. Não vi ninguém falar, e ninguém cobrar, o que se fará com a Previdência. Porque, embora tenha saído da pauta legislativa, não saiu da pauta política. Só sairá se não cobrarem… Não é possível mais esse disfarce. Quando  formulamos um documento chamado “Ponte para o futuro” era para conciliar com o governo anterior. Quando apresentamos, Levy (Joaquim) era o ministro da Fazenda, e até me telefonou, dizendo que existiam pontos formidáveis. Mas o governo, não sei porquê, tomou aquilo como gesto de oposição. Quando assumimos, cumprimos quase tudo aquilo que está no projeto. Agora, lançaremos outro,  “encontro com o futuro”. O que ocorre numa campanha eleitoral é que as pessoas dizem algumas coisas e quando chega o governo, não cumprem. Nós, não, cumprimos e pretendemos cumprir no próximo. Não fui eleito diretamente, como cabeça de chapa, fui eleito indiretamente como vice. Mas concluí um programa, e tive coragem de concluir.

A divisão de candidatos de centro não pode levar à derrota nas urnas para esse grupo?

Acho que o afunilamento se dará no fim de junho, começo de julho. Hoje todos os candidatos percebem que há um grande vácuo, então, todos querem e acham que podem chegar lá. Sou contra os rótulos, né? Esse negócio de esquerda, direita, isso não existe mais. O que o povo quer é uma política de resultado, se ele vem de quem é de esquerda, direita, centro, não importa. Usam-se os rótulos, de qualquer maneira. Seria extremamente útil que tivéssemos um candidato de extrema esquerda, extrema direita e de centro. O eleitor vai escolher em face dos projetos. Agora, se no chamado centro tivermos oito, nove candidatos, ninguém vai chegar lá.

O senhor é candidato?

Ainda estou meditando.

O senhor já está meditando há muito tempo, não?

Eu tenho o que dizer. Quem se opuser ao governo, vai ter que dizer que é contra o teto dos gastos, que não tem preocupação com o país; que é contra a inflação ridícula de 2,8%, porque é a favor de 10,28%; que é contra a redução dos juros de 14,25%, para 6,5% porque quer juros mais elevados; que é contra a recuperação das estatais, a Petrobras, a Caixa Econômica;, contra a modernização trabalhista porque “temos que manter a consolidação de 1943”. Vai ter que dizer isso! Não vi ninguém ainda… No caso da reforma da Previdência, estávamos preparados para votar e aconteceu o embaraço em 17 de maio e paralisou tudo. Foi algo estupendo, que paralisou o país. Embora achassem que eu renunciaria, estamos aqui e faz um ano. Não vi ninguém falar, e ninguém cobrar, o que se fará com a Previdência. Porque, embora tenha saído da pauta legislativa, não saiu da pauta política. Só sairá se não cobrarem… Não é possível mais esse disfarce. Quando  formulamos um documento chamado “Ponte para o futuro” era para conciliar com o governo anterior. Quando apresentamos, Levy (Joaquim) era o ministro da Fazenda, e até me telefonou, dizendo que existiam pontos formidáveis. Mas o governo, não sei porquê, tomou aquilo como gesto de oposição. Quando assumimos, cumprimos quase tudo aquilo que está no projeto. Agora, lançaremos outro,  “encontro com o futuro”. O que ocorre numa campanha eleitoral é que as pessoas dizem algumas coisas e quando chega o governo, não cumprem. Nós, não, cumprimos e pretendemos cumprir no próximo. Não fui eleito diretamente, como cabeça de chapa, fui eleito indiretamente como vice. Mas concluí um programa, e tive coragem de concluir.

A divisão de candidatos de centro não pode levar à derrota nas urnas para esse grupo? 

Acho que o afunilamento se dará no fim de junho, começo de julho. Hoje todos os candidatos percebem que há um grande vácuo, então, todos querem e acham que podem chegar lá. Sou contra os rótulos, né? Esse negócio de esquerda, direita, isso não existe mais. O que o povo quer é uma política de resultado, se ele vem de quem é de esquerda, direita, centro, não importa. Usam-se os rótulos, de qualquer maneira. Seria extremamente útil que tivéssemos um candidato de extrema esquerda, extrema direita e de centro. O eleitor vai escolher em face dos projetos. Agora, se no chamado centro tivermos oito, nove candidatos, ninguém vai chegar lá.

Ana Dubeux e Denise Rothenburg (Correio Braziliense)

Entrevista publicada no jornal Correio Braziliense – em 18 de maio de 2018

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