Jucá: “Não é novidade para moro fazer política, temos que torcer para dar certo”

Principal articulador político do governo Michel Temer no Congresso e presidente do MDB, o senador Romero Jucá (RR) disse que a escolha de Sérgio Moro para ministro da Justiça de Jair Bolsonaro não deve ser alvo de preconceito ou pré-julgamento. Alvo da Lava Jato, o emedebista evita críticas ao juiz símbolo da operação, mas afirma que “não é novidade” o Moro fazer política.

“Ele fazia política. Ele fez política com a imprensa, fez política com o mundo Judiciário, com a sociedade, ele fez política. Não é uma novidade para ele fazer política. Só que o tipo de política que ele vai fazer vai ser ampliado, algumas vertentes que ele não atuava, ele vai ter que atuar”, disse.

Em entrevista Estadão/Broadcast Político, Jucá avaliou que Bolsonaro iniciará sua gestão com uma “cobrança alta” para mudar a vida das pessoas para melhor. Segundo ele, as cobranças não virão somente do eleitorado. Os agentes financeiros também estão “torcendo” para o sucesso do presidente, mas não deixaram de ser profissionais ao avaliarem “a prática” do governo. Por isso, se estivesse no lugar de Bolsonaro, Jucá diz que faria um “ajuste” no discurso radicalizado da campanha com o objetivo de governar.

“Todo mundo ali (campanha de Bolsonaro) é inteligente, vai se ajustar, não vejo ali nenhum maluco fazendo loucura. Você pode radicalizar para ganhar uma campanha, você não pode radicalizar para governar. No governo, você governa para todos. E o País saiu dividido. (Ajuste no discurso) é o que eu faria se fosse presidente.”

Broadcast Político – Como avalia a indicação do juiz Sérgio Moro para o governo Bolsonaro?

Romero Jucá – Bolsonaro assume no contexto de ter sido depositário de ódios, de revoltas, de tudo isso que se conceituou como culpar a política pela situação individual de cada pessoa. E o Bolsonaro conseguiu ensejar isso de uma forma inteligente, de uma forma estruturada. Ele assume com esse tipo de cobrança latente, com a cobrança do que pregou. E vai ter um prazo para começar apresentar resultados. Começou fazendo escolhas emblemáticas: o juiz Sérgio Moro é uma escolha emblemática, representa muito mais do que o cargo. Não é uma unanimidade, mas é algo que a maioria da população admira e, portanto, em tese, em tese (enfatizou), um acerto do governo. Não sou daqueles que critica a escolha do Moro, nós temos que respeitar. Não temos que ter condenação prévia de ninguém, não temos que ter preconceito. Independentemente de gostar ou não gostar, temos que torcer para o Brasil dar certo e melhorar. Não jogo no quanto pior, melhor. A posição do MDB (em relação ao governo Bolsonaro) é uma posição de independência, é diferente da neutralidade que tivemos no primeiro turno. Neutralidade é você liberar e não se manifestar. Independência é você avaliar e se posicionar a cada questão política que teremos no Brasil.

Broadcast Político – Alguns dos críticas à Lava Jato diziam que intenção era destruir os políticos para ocupar a política. A escolha do Moro confirma isso?

Romero Jucá – Em si só, não. Vamos ter que esperar as ações. Acho que o Moro tem todo o direito de ir para o Ministério. O Moro só não é a Operação Lava Jato, é um segmento importante. Ele simboliza (a Lava Jato), eu acho que ele deve ter pesado muito isso.

Broadcast Político – Em 2016, Moro disse que jamais entraria na política?

Romero Jucá – Cabe a ele se colocar, não vou prejulgar, vamos esperar.

Broadcast Político – Qual conselho o senhor daria para o Moro agora que ele vai fazer parte do mundo político?

Romero Jucá – Agora ele é um elemento da política. Ele vai ter que mudar um pouco de características para se relacionar mais no mundo profissional que ele vai viver. Vai ter que ter muita paciência.

Broadcast Político – Ele vai ter que aprender a ser político?

Romero Jucá – Todo mundo é político. Ele fazia política. Ele fez política com a imprensa, fez política com o mundo Judiciário, com a sociedade, ele fez política. Não é uma novidade para ele fazer política. Só que o tipo de política que ele vai fazer vai ser ampliado, algumas vertentes que ele não atuava, ele vai ter que atuar. Se ele atuou bem em todas essas situações que ele viveu…é uma pessoa inteligente, tenho certeza que ele poderá fazer um bom trabalho.

Broadcast Político – Com essas nomeações, Bolsonaro começa com uma expectativa muito alto contra si?

Romero Jucá – Começa alta porque, apesar dele não ter verbalizado certas coisas, o contexto no qual a campanha dele se colocou está impregnado na sociedade. As pessoas vão querer melhorar de vida. Cobrança será alta, ele vai ter que administrar isso.

Broadcast Político – O que o senhor tem sentido de expectativa dos agentes econômicos?

Romero Jucá – Eu acho que todos os ambientes de investimento estão torcendo pelo Bolsonaro, mas não deixarão de ser profissionais para avaliar a prática do governo. O jogo não começou ainda. Não podemos querer precificar uma declaração, até por inexperiência de governo.

Broadcast Político – Como avalia a contradição do governo Bolsonaro dizer que não abriria o governo para formar maioria no Parlamento, mas ao mesmo tempo ter que ter maioria para aprovar as pautas necessárias?

Romero Jucá – Nenhum governo trabalha sem ter uma maioria pelo menos eventual. Eu defendo que não tenha loteamento de cargos. Não é por isso que você vai trazer alguém de Marte para ser ministro. Não adianta criminalizar as decisões políticas. Ele (Bolsonaro) precisa ter pessoas, precisa avaliar bem cada momento, ter gente com experiência. Não adianta se comportar pelas opiniões de quem não tem experiência. Quem não tem experiência, não viu esse filme algumas vezes.

Broadcast Político – Mas o senhor vê perfis de qualidade na fotografia do novo Congresso?

Romero Jucá – Eu diria que uma grande motivação dos perfis que vieram são de redes sociais com uma posição mais rasa de conteúdo, mas isso também faz parte da eleição.

Broadcast Político – DEM e PSDB têm novos quadros que se tornaram novas lideranças, o que senhor espera para o MDB?

Romero Jucá – No MDB já começamos a fazer a guinada. Quando tiramos “partido” (da sigla PMDB) e colocamos o nome “movimento”, não era para voltar ao passado e esconder problemas do presente. Era porque reconheço que a ação política hoje não é mais algo burocrático, ensejado no partido. Tem que estar num movimento. O MDB já foi um movimento e tem que voltar a ser. Sempre tivemos atrelados a governos, com muito menos liberdade de fazer uma política mais abrangente. Esse é um momento novo que nós vamos construir, não precisa mudar as pessoas. Nenhum partido mudou pessoas. Você pode ter mais jovens, mais novos, mas é quem tava nesse jogo há muito tempo. Não é fácil porque o MDB é um partido antigo, é o que está mais tempo aí. Vamos ter uma tarefa pela frente, não é fácil mudar, mas temos que caminhar porque o processo político eleitoral será outro a partir de agora.

Broadcast Político – Os quadros mais experientes do MDB vão saber fazer política sem estarem próximos a cargo e a governo?

Romero Jucá – A necessidade ensina. Você não pode ficar preso ao modelo que foi completamente reformulado. Quem insistir nisso, está fora do jogo. Esse modelo é um modelo que não se sustenta mais.

Broadcast Político – O senhor dizia, em 2014, que se candidataria apenas mais uma vez, em 2018. Após este resultado, o senhor vai deixar a política?

Romero Jucá – A política está no meu sangue, eu sei fazer isso bem. Eu não ter mandato não quer dizer que eu não possa debater, participar. Se eu vou ser candidato daqui quatro anos, vai depender da conjuntura, da minha condição de vida. É uma avaliação para ser feita no momento. Não está nos meus planos. Vou cuidar da minha vida, eu sobrevivo do meu trabalho, não tenho posses.

Broadcast Político – Como o senhor avalia que deve ser a relação do PSL com o Centrão, que tem poder para ser um fiador do governo?

Romero Jucá – Você não precisa ignorar outras forças do Congresso. Se fizer isso, é algo perigoso. O processo ali na Câmara é muito complexo e muito amarrado. Precisa de todo mundo ali para os processos andarem. Se uma parte não está andando junto, já fica mais difícil. Acho que o governo Bolsonaro vai ter gente experiente para verificar na prática o que precisa ser feito. O MDB não estará no Centrão. Acho que não é uma boa prática para o futuro do MDB ficar caudatário do Centrão.

Broadcast Político – O Paulo Guedes é visto por parte dos agentes financeiros e da academia como alguém extremo. O senhor acha que ele vai conciliar todos os lados?

Romero Jucá – A prática do Paulo Guedes só vai ser vista agora. A teoria do Paulo Guedes pode até ser vista com algum pano de fundo, mas a prática dele é que vai contar, não a teoria. Nós não vimos a prática dele ainda, temos que dar o benefício da dúvida, não dá para condenar. Nunca sentei com o Bolsonaro para conversar, também não tenho como avaliar a pessoa dele. Agora ele vai ter que discutir com o Bolsonaro qual a linha que o governo vai implementar. O governo não será a cabeça do Paulo Guedes. O governo será a cabeça do Bolsonaro, a capacidade técnica do Paulo Guedes, dos outros ministros…todo mundo ali é inteligente, vai se ajustar, não vejo ali nenhum maluco fazendo loucura. Você pode radicalizar para ganhar uma campanha, você não pode radicalizar para governar. No governo, você governa para todos. E o País saiu dividido.

Broadcast Político – Então Bolsonaro precisa fazer um ajuste de tom?

Romero Jucá – É o que eu faria se fosse presidente.

Broadcast Político – Nessa radicalização da campanha, ele também fez da bandeira dele o combate à corrupção. O senhor teme algum tipo de caça às bruxas a partir do ano que vem?

Romero Jucá – Eles é que têm que falar. O governo não pode perder tempo com caça às bruxas porque as cobranças virão. As bruxas já são as bruxas, não são reconhecidas no mundo real. O governo vai ter que cuidar do mundo real, principalmente.

 

FONTE: Broadcast Político – Renan Truffi e Thiago Faria

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